sábado, 21 de março de 2009


Eu matei o Padre Ramiro
Fernando Farias
Comove a ironia do destino. O assassinato do padre espanhol Ramiro Ludeño, numa tentativa de assalto. Justamente por um jovem 15 que queria dinheiro para pagar dívidas com o tráfico de drogas. Padre Ramiro foi morto justamente por um daqueles milhares de jovens que ele tanto ajudou durante 21 anos. Mas o rapaz não sabia disso, nem o povo de Pernambuco, era apenas um velho homem dirigindo um carro num bairro pobre.
Lembro do entusiasmo com que ele me mostrava as dependências de sua entidade voltada a apoiar jovens pobres em conseguir uma profissão e se libertarem do crime e das drogas.
“Meu trabalho é fazer esta meninada sonhar com um futuro diferente”. Repetia ao final de cada monologo que eu ouvia pacientemente.
Tenho certeza, sou capaz de jurar, que Padre Ramiro não condenaria o jovem que o matou. Com certeza reclamaria muito do rapaz, com aquela sua dicção espanhola engraçada, por ter atrapalhando a continuidade do trabalho de recuperar outros jovens e o convidaria a trabalhar na criação de animais em um sítio que mantinha no bairro do Curado.
Padre Ramiro era um faxineiro, tentava limpar o que a sociedade sujava nas mentes de nossos jovens. Lutava contra o tráfico, a policia corrupta, os governos indiferentes e pessoas como eu, que vê uma juventude desesperada e nada fazemos.
Eu fui um dos matadores do padre Ramiro. O governador também. O leitor também. E vamos continuar apenas observando, indiferentes, até chegar a nossa vez de encontrar pela frente um jovem de 15 anos drogado.
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Cronica publicada do Blog do Jamildo do Jornal do Commércio do Recife
Para saber mais acesse

quinta-feira, 12 de março de 2009

Eu me auto-excomungo


Eu me auto-excomungo

Fernando Farias *

Está cada vez mais difícil ser escritor. Escrever contos e ficção com criatividade. Pensei até em me dedicar ao realismo fantástico, com histórias surrealistas e bizarras, beirando o mistério e o horror. Acho que fracassei. Explico. A realidade está cada vez mais absurda e é difícil competir com as noticias nos jornais.
Pensei em escrever um conto assim. Começa com o parto numa maternidade pública numa cidadezinha no interior do estado. Uma criança de nove anos dando luz a gêmeos. Ela foi estuprada e sobrevive ao parto e agora terá que criar as duas crianças. Mesmo traumatizada pelo estupro e pela dor do parto, vai ter que ser mãe e ver, todos os dias, os filhos como uma punição ao pecado. O estuprador vai preso, mas tempos depois é solto por bom comportamento e bons advogados católicos. E as crianças, as três vítimas, pagam pelo resto da vida pelo crime cometido por um tarado.
Tudo isso porque um bispo e um padre ameaçaram de excomungar os médicos e a mãe da menina e assim impediram o aborto. Por sorte ninguém é excomungado e a história termina com um final feliz, no dia do batizado das crianças com a igreja lotada e o padre orgulhoso de batizar os raquíticos Cosme e Damião. Como os médicos não cometeram o aborto e não foram excomungados, nenhuma planta carnívora os atacou e raios e trovoadas não caíram sobre a maternidade.
Uma cena para encerrar. O bispo feliz lendo a Bíblia, no evangelho São Mateus, onde Deus protege apenas o seu filho Jesus e deixa Rei Herodes comandar a matança de milhares de crianças inocentes, a maior carnificina de crianças da história e só uma criança foi salva por anjos.
Seria uma história besta, comum, sem interesse ao leitor. Não agradaria aos grupos de defesa das mulheres. Acho que se eu descrevesse um conto erótico com a relação incestuosa do padrasto com a menina eu faria sucessos em algumas capelas.
Mas tenho dificuldades em criar coisas assim. É complicado ser criativo como os pedófilos e os bispos. Vou deixar de ser escritor. Eu me auto-excomungo e vou ler apenas jornais.

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